Prefeitura de Osasco

“Aqui não queremos pais. Aqui, queremos irmãos.”. Ouvi essa frase de companheiros do Mutirão Cultural na Quebrada, numa padaria da Vila Menck em Osasco, nos idos de 2011. Eu estava lá em nome do poder público municipal. Eles, como legítimos representantes da cultura popular daquela quebrada.

A afirmação me pegou no contrapé. Eu, que esperava o inverso da proposta – talvez por preconceito, talvez por desconhecimento, talvez por ser de outra quebrada – fui atropelado por uma verdade na qual sempre acreditei. Preparado para fazer um discurso que defendesse exatamente o que me era apresentado, percebi que o entendimento, ali, era mais avançado do que o meu. Não esperavam um poder público paternalista. Esperavam um fraterno.

Conta o ditado que quem paga a banda, escolhe a música. Se assumir o papel de mecenas, o Estado passa a contar com o poder de pautar a construção histórica da cultura. Se for omisso, deixa de cumprir com sua obrigação fundadora, que é a de garantir direitos. E cultura é um direito.

O lugar do Estado na cultura popular é o de indutor, fomentador, incentivador. O Estado deve criar condições para que a cultura flua livremente em seus veios naturais de capilaridade. O Estado, em nome da sociedade, deve oferecer possibilidades para que o florescimento da cultura popular seja pleno, franco e independente.

Ao posicionar-se como apoiador, o poder público passa a ter com a cultura popular uma relação horizontal, onde cada um executa aquilo que tem aptidão ou dever de fazer. A mobilização de recursos públicos – financeiros, humanos, materiais, institucionais – é atribuição do Estado e é com essa tarefa que ele deve contribuir para o dinamismo da cultura popular. Enquanto isso, os sujeitos culturais dão conta do processo histórico, com suas tradições, suas rupturas, suas criações.

Um grande erro consiste em considerar cultura como sinônimo de arte. A arte é apenas uma das formas de expressão da cultura, assim como o idioma, os costumes, a alimentação e todas as outras idiossincrasias da sociedade. A cultura é maior. A cultura é superestrutura. E incentivar a cultura é incentivar o desenvolvimento da própria sociedade.

Imaginar uma sociedade sem liberdades é um exercício assustador. Exceção feita àqueles que preferem a restrição de direitos à castração de seus privilégios, mas esses são minoria. Da mesma forma, acreditar na construção cultural de uma sociedade sob a tutela do Estado é abrir mão daquilo que a cultura popular tem de mais valioso: sua independência.

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